A oposição brasileira tem adotado uma lógica de "estado de exceção" no combate ao narcotráfico, transferindo a política criminal do campo da segurança pública para o da segurança nacional. Essa abordagem abre espaço para o uso de métodos de guerra e a potencial suspensão de garantias constitucionais, refletindo uma matriz autoritária persistente com raízes no pensamento de Oliveira Vianna, que defendia uma hierarquia social e o Estado como tutor de massas incapazes de autogoverno.
A crise na segurança pública ganhou centro na política nacional após a megaoperação nos complexos do Alemão e da Penha, no Rio de Janeiro, que resultou em 117 mortos, a maioria ligada ao Comando Vermelho e muitos de fora do estado. Este evento evidencia a dimensão nacional do problema e a necessidade de uma atuação federal mais efetiva, o que é dificultado pela paralisação da PEC do Sistema Único de Segurança Pública (Susp) devido à rejeição de governadores de oposição à centralidade do Ministério da Justiça.
Enquanto o governo federal, sob Lula, sanciona leis que tipificam crimes de obstrução e propõe o endurecimento de penas, a oposição avança com a demanda por legislação antiterrorista contra o narcotráfico. O gesto do governador Cláudio Castro de pedir ao presidente dos EUA, Donald Trump, o reconhecimento do Comando Vermelho como organização terrorista simboliza essa mudança de paradigma, onde a política interna passa a ser regida pela lógica da exceção e pela retórica do inimigo interno, com um pedido de ajuda e intervenção norte-americana.
Pesquisas indicam um forte apoio popular a medidas mais drásticas, com 85% dos fluminenses apoiando o aumento de penas e 72% defendendo o enquadramento das facções como terroristas. Esse sentimento de desespero social diante de um Estado que perdeu o monopólio da força se converte em demanda por um regime de exceção. A megaoperação "Contenção" simboliza esse ponto de inflexão, onde o Estado age como força ocupante em territórios "perdidos", rompendo com o Estado de Direito e a ação estatal de guerra.
Essa concepção de tratar favelas como zonas de exceção e seus habitantes como populações a serem controladas remonta à ideia da incapacidade congênita dos pobres para a vida civilizada, conforme teorias de Oliveira Vianna. Nesse contexto, a polícia atua como instrumento de disciplina, e não como força cidadã, reforçando a ideia de que milícias e policiais corruptos ocupam esses espaços. A oposição, ao adotar essa lógica, encarna o papel de guardião da sociedade, perpetuando uma matriz autoritária na cultura policial contemporânea.
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